AC decreta emergência devido à superlotação de unidades de saúde por conta da baixa qualidade do ar

 Decreto foi publicado na manhã desta terça-feira (19). Secretário de Saúde destaca que medida deve facilitar a destinação de recursos para o estado.

Por g1 AC — Rio Branco

O governador do Acre, Gladson Cameli, decretou emergência no estado em decorrência da superlotação das unidades estaduais de saúde, causada pela situação da má qualidade do ar. O resultado é devido às queimadas que geram fumaça e acabam impactando a saúde da população. O decreto foi publicado na manhã desta terça-feira (19) e tem prazo de 90 dias.

“Os dados da série histórica sobre a concentração do material particulado, até julho de 2023, revelam uma tendência de aumento na concentração (média diária MP2,5/µg/m3) entre os meses de agosto a outubro, podendo aumentar também nos meses de novembro e dezembro em decorrência do “El Niño”, ultrapassando as médias de limites preconizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS)”, destaca o documento.

Para o Jornal do Acre 1ª Edição, o secretário de Saúde do estado, Pedro Pascoal, disse que muitos grupos estão sendo afetados com a baixa qualidade do ar e, por isso, os atendimentos nas unidades de saúde têm se intensificado.

“Mais uma vez friso que essa ação é estratégica, que tem como integração o Ministério da Saúde como retaguarda e orientador. Assim como nós passamos no início do ano síndrome respiratória aguda grave por conta do vírus sincicial respiratório e o vírus influenza, nós estamos agora enfrentando a mesma situação, com um público diferente, sabemos que agora a população que é acometida pelas queimadas, pela qualidade ruim do ar, é de idosos e pacientes crônicos. Então, nós precisaríamos de uma estratégia de fortalecimento. Essa ação visa um fortalecimento financeiro, um subsídio do Ministério da Saúde para que nós consigamos de fato abrir novos leitos e manter aqueles que já estão abertos estruturados. Assim como fortalecimento das nossas portas, das nossas unidades, para que a gente consiga vencer essa etapa, assim como nós vencemos o assim no respiratório aguda grave voltado para a pediatria. Então essa foi uma estratégia articulada do Ministério da Saúde, para que nós consigamos passar essa etapa de forma tranquila sem que nós tenhamos grandes perdas”, destacou.

Os grupos que devem ficar atentos, segundo o secretário, são os menores de 5 anos e os idosos que já possuem algum problema pulmonar. Os sinais mais preocupantes são as dificuldades para realizar suas atividades normais, aparecimento das retrações musculares do tórax e o esforço respiratório em si.

Pascoal destaca ainda que é importante que o paciente procure as unidades de saúde certas para que não gere tumulto principalmente no pronto-socorro, que deve ser a unidade para casos graves.

“Os pacientes podem procurar as UPAs, vamos deixar o Pronto-Socorro de Rio Branco para situações realmente graves, como o paciente infartado, o paciente com AVC. As UPAs hoje possuem todas as condições para atendimento, possuímos leitos de retaguarda, usina de oxigênio, toda a estrutura de fato para dar uma assistência de qualidade para a população. Então, caso venha a passar mal, sentir algum sintoma respiratório, procure as UPAs para atendimento.”

Poluição do ar

No último dia 9, o número de poluentes encontrados no ar em Rio Branco estava mais de cinco vezes acima do considerado ideal. Conforme os sensores que monitoram a qualidade do ar no Acre, por meio do sistema Purple Air, a capital acreana apresentou, naquele dia, um pico de concentração de 83 microgramas por metro cúbico de material particulado.

Esses equipamentos fazem parte de um projeto entre o Ministério Público do Acre (MP-AC), a Universidade Federal do Acre (Ufac) e órgãos de saúde e do meio ambiente do estado.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que a quantidade de material particulado por metro cúbico (µg/m³) aceitável é de 15 microgramas. Porém, a partir de 12 µg/m³ já oferece risco em uma exposição prolongada. Até 2021, o valor aceitável era até 25 microgramas, segundo explicou o professor e pesquisador da Ufac, Foster Brown.

Neste terça-feira (19), foi registrado em Rio Branco 27 microgramas por metro cúbico de material particulado, que é a qualidade do ar é aceitável. No entanto, se expostos por 24 horas ou mais, pode haver um problema de saúde moderado para um número muito pequeno de pessoas

“É um fator agravante. Nós sabemos que a fumaça possui inúmeras substâncias tóxicas, que são nocivas para o aparelho respiratório. A orientação que nós passamos para a população é que evite as queimadas. Aquele lixo que que no final do dia se coloca fogo, por mais que seja mínimo, vamos evitar. Vamos encaminhar para que seja feita a correta coleta pela equipe de saneamento público. Nós precisamos da colaboração da população nesse momento, porque pode ser um familiar seu que passe mal e necessite assistência médica. Isso está diretamente relacionado. O meio ambiente monitora a qualidade do ar, a Secretaria de Saúde também monitora a qualidade do ar, nós cruzamos os dados e as decisões são tomadas em conjunto. Então fica isso alerta para a população, para que evitem, de fato, as queimadas”, pontuou o secretário de Saúde.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o Acre já registrou, de janeiro a 18 de setembro, 3.413 focos de queimadas. Somente nos 18 dias de setembro, foram 1.765 focos. O município de Feijó lidera com total de 414 focos, Tarauacá com 349 focos, Cruzeiro do Sul com 148 focos, Rio Branco com 106 focos, Rodrigues Alves com 97 focos e Sena Madureira com 92 focos.

Para 2023, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica do governo dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês), a estimativa é que o El Niño tenha uma das ocorrências mais intensas dos últimos 70 anos.

Gráficos mostram focos de queimadas durante todo o ano e só em setembro — Foto: Divulgação

Gráficos mostram focos de queimadas durante todo o ano e só em setembro — Foto: Divulgação

Colaborou Murilo Lima, da Rede Amazônica Acre.