Donos de postos acusam cartel de distribuidoras que determina preço final de combustíveis

Da Redação, com Jornal da Band

Donos de postos reclamam que grandes distribuidoras impõem o preço dos combustíveis, determinando quem vai vender mais caro ou mais barato. O repórter Sandro Barboza mostrou no Jornal da Band como isso interfere no mercado.

Gasolina, etanol e diesel: por trás do mercado que sustenta o País existem várias denúncias de irregularidades. Nas ruas, a percepção do consumidor é quase unânime: o preço para abastecer é caro demais.

Mas afinal, por que o combustível no Brasil custa tão caro? Uma parte se deve à alta carga tributária. Outra, pode estar escondida em um sistema que impede a competição e que garante a quem distribui o combustível um poder de determinar o preço final.

Por mais de um ano, a Associação Brasileira de Revendedores de Combustíveis analisou os contratos firmados entre os postos e as três maiores distribuidoras do país. Elas dominam mais 70% do mercado. O levantamento indicou que quem determina o preço são as distribuidoras.

A cadeia que sustenta o setor funciona assim: as usinas e refinarias produzem o combustível. As distribuidoras compram e revendem para os postos. Cada posto tem uma bandeira, ou uma marca. Assim, quem tem bandeira x, só pode comprar da bandeira x. Os liberados para comprar qualquer marca são conhecidos como “bandeira branca”.

“Para o posto A, a distribuidora vende por 3 [reais]. Para o posto B, vende por R$ 3,10. Para o posto C, por R$ 3,15, por R$ 3,20, por R$ 3,30. Ou seja, na realidade, a distribuidora faz os preços que ela bem entende para cada um dos postos da sua rede”, critica Rodrigo Zingales, da Associação Brasileira de Revendedores de Combustíveis.

Um ex-dono de uma rede de postos, que preferiu não se identificar, revelou a estratégia usada pelas distribuidoras.

“Nós tínhamos contrato com a mesma distribuidora em todos os postos e os preços nunca foram os mesmos. Os preços sempre foram diferentes. Nós questionávamos a distribuidora, o motivo dessa diferenciação do preço e não recebíamos resposta”, disse.

Com o tempo, o empresário não conseguiu honrar o contrato. Mas teve problema até mesmo para romper o acordo.

“A gente viu que o que a gente deveria pagar para a distribuidora como rescisão era o equivalente a três vezes o valor do próprio posto. Era impossível pagar a multa de rescisão, para a gente ser livre e praticar um preço melhor para o consumidor”, relatou.

“Nos casos dos postos bandeira branca o que a gente percebe? A gente percebe que tem uma concorrência. E aí aquele posto bandeira branca tem maior possibilidade de negociação de preços e, consequentemente, de comprar produtos a preços mais baixos do que aqueles postos bandeirados”, finaliza Zingales.

Mesmo quando há redução dos preços nas refinarias, isso não chega ao consumidor. A própria Agência Nacional do Petróleo (ANP) reconhece isso em análises. Ou seja, o Governo tem conhecimento do problema.

Um mercado que opera com regras muito próprias. A reportagem do Jornal da Band flagrou caminhões de diferentes distribuidoras abastecendo no mesmo local: uma unidade da BR distribuidora em Guarulhos, na Grande São Paulo.

Por trás de tantos interesses, o consumidor paga a conta dos possíveis excessos cometidos no setor. Quanto às empresas engolidas pelas práticas das gigantes dos combustíveis…

“Nunca mais eu quero posto de combustível. Pretendo sair e só passar em posto de combustível para abastecer meu carro”.

A Associação das Distribuidoras de Combustíveis (Brasilcom) não quis se manifestar sobre as acusações.