Xingamentos a políticos na internet viram casos de polícia

Ataques virtuais e xingamentos publicados em redes sociais nos perfis de governadores, deputados federais, senadores e até ex-presidentes da República provocaram uma enxurrada de ocorrências registradas na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF). O volume de procedimentos é tão grande, que a Divisão de Repressão a Crimes Virtuais (DRCC) irá fazer uma investigação por amostragem. Em alguns casos, um mesmo parlamentar chegou a registrar dezenas de queixas.

Em um dos episódios mais graves, o senador foi alvo de xenofobia por ter sido eleito por um estado nordestino. O caso foi remetido à DRCC pelo Núcleo de Enfrentamento à Discriminação, Núcleo de Direitos Humanos do Ministério Público. Um perfil do Facebook identificado como Cristiano Martins fez postagens discriminatórias em relação à origem do senador – que é paulista. “Seu nordestino de bosta, filho da puta nordestina, vagabundo, excremento, tem que mata um filho da puta igual a você, verme (sic)”, dizia a postagem.

Terra sem lei

O senador Humberto Costa comentou que a cada ataque à sua honra publicado por internautas em suas redes sociais, uma equipe do gabinete faz o relato às autoridades. “Não vou deixar de me manifestar nem de lutar pelo endurecimento das legislações conta esse tipo de crime. Muita gente acha que a internet é uma terra sem lei, mas não é assim que funciona”, disse.

A utilização de perfis falsos ou ataques em massa feitos por robôs que atingem figuras políticas não é exclusividade dos parlamentares de esquerda. Deputadas federais de direita como Bia Kicis (PSL-DF) e Carla Zambelli (PSL-SP) também registraram ocorrência após serem xingadas nas redes sociais.

Kicis registrou ocorrência na DRCC após ter sido vítima de calúnia, injúria e difamação. A parlamentar foi atacada virtualmente por um youtuber identificado como “Dom Werneck”. Ele gravou um vídeo e publicou no seu canal do Facebook. Nas imagens, o autor chama a deputada de farsante e que ela faria parte do crime organizado, além de utilizar recursos públicos irregularmente e promover lavagem de dinheiro.

Para a polícia Kicis disse ter conhecido Dom Werneck há anos em um acampamento de apoio ao impeachment da então presidente da República Dilma Russeff. Contudo, fazia anos que não o via.

O governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), também figura como vítima em pelo menos três ocorrências apuradas pela PCDF. Em maio deste ano, vídeos que circulavam na internet mostravam manifestantes e caminhoneiros que se dirigiam à Esplanada dos Ministérios para realizar manifestações políticas e foram impedidos pela Polícia Militar.

Na imagem, um homem xinga o chefe do Executivo local de “ladrão, corrupto, safado, vagabundo, cafajeste, covarde e safado”.

Investigadores da DRCC fizeram pesquisas em fontes abertas e localizaram o perfil do autor dos xingamentos. Foram coletadas as imagens e os vídeos das redes sociais. De acordo com o delegado-chefe da DRCC, Giancarlos Zuliani, existem ataques em que são postados 200 ou mais comentários atacando a honra de determinadas vítimas.

Para otimizar as apurações, os policiais estão separando os casos por amostragem. “Estamos pegando os ataques mais graves, mais contundentes, e fazendo o trabalho de identificação do perfil, quem é o responsável e onde mora. O volume de casos impossibilita que seja feita uma apuração individual”, explicou.